No dia 31 de outubro, comemora-se os 505 anos da Reforma Protestante, que foi um movimento religioso do século XVI, já que neste período, a fé cristã se viu envolvida numa profunda crise, onde a leitura da Bíblia ficava restrita apenas aos clérigos, sendo paulatinamente substituída pelos amuletos, pelo misticismo, pela tradição e crendices populares. Sendo que, neste período, a Bíblia somente era lida em latim pelos padres se tornando para a maioria das pessoas um documento misterioso.
Portanto, o contexto histórico da Idade Média foi marcado pela imposição da teologia do medo, onde o clero católico demonizava tudo que fosse contrário e ensinava práticas contraditórias, como a venda de indulgências, o uso dos amuletos, diversos tipos de superstições e histórias com fundo manipulativo. Contudo, com o passar do tempo, começou a haver um desgaste destas práticas e assim tem início o período conhecido como Pré-Reforma, que foi legitimado pela crise moral do papado, pela revolta dos camponeses contra os senhores feudais, e pelo movimento do Renascimento, onde as pessoas começaram a ter mais acesso à cultura e ao conhecimento, sendo estas as bases da futura Reforma Protestante.
No início do século XVI, como efeito da teologia medieval, o monge agostiniano Martinho Lutero entendia que somente através do martírio e do sofrimento é que o homem alcançaria a salvação. Com isso, ele era terrivelmente afligido por sua consciência e se considerava o pior dos pecadores, a ponto de penitenciar-se diariamente, pois Lutero cria na salvação pelas obras e não compreendia de modo pleno a graça de Deus. Contudo, durante seus estudos teológicos exaustivos, passou a compreender a justiça de Deus ao estudar Habacuque 2:4 e Romanos 1:17 “O Justo viverá da fé”. Dessa feita, Lutero passou a compreender que a salvação do homem se dá através da justificação pela graça mediante a fé, e que é um ato de Deus e não do homem. De acordo com o historiador luterano Joachim H.Fischer: “A origem da Reforma Protestante foi a redescoberta da justificação pela graça mediante a fé. Serviu como critério para avaliar a igreja, a teologia e a sociedade da época.
Portanto, no ano de 1512, Lutero se forma doutor em Teologia e em 1517, lançou uma abrangente e contundente crítica às indulgências, o que acaba desencadeando o processo que se tornará a Reforma Protestante. Não com o objetivo de formar uma nova igreja, mas, com o claro objetivo de reformar a fé católica. Lutero passou a formular as suas doutrinas, combateu os erros teológicos do período e assim promoveu a Reforma Protestante a partir de 1517, fixando as 95 Teses da Fé na igreja da cidade de Wittenberg, como sinalizou o teólogo luterano Joachim Fischer:
Lutero confrontava-se com as consequências desastrosas do negócio das indulgências, um dos pilares da sustentação financeira da instituição Igreja. Com suas famosas 95 teses, de 31 de outubro de 1517, sugeriu um debate para esclarecer o valor das indulgências.
Portanto, a Reforma mudou o panorama e a história de todo o cristianismo, gerando mudanças pontuais não apenas na religião, mas, na vida política, económica, cultural e moral, já que a mensagem de Lutero tem atravessado gerações como bem sinalizou o padre português Carreira das Neves:
Penso que vale a pena repassar e reler, mais uma vez, a vida de um homem que marcou a história religiosa da humanidade, sobretudo a história do cristianismo…É regressar às fontes com os olhos da exegese bíblica de hoje e com os olhos da cultura religiosa, cientifica, política e social dos nossos dias”.
Por fim, a própria igreja católica reconheceu a importância da Reforma, o que foi amplamente divulgado em 2017, durante as comemorações dos 500 anos deste acontecimento que marcou a história da humanidade.